domingo, 23 de novembro de 2008


A Um Livro



No silêncio de cinzas do meu ser

Agita-se uma sombra cipreste,

Sombra roubada do livro que ando a ler,

A esse livro de mágoas que me destes.


Estranho livro aquele que escrevestes,

Artista da saudade e do sofrer!

Estranho livro aquele em que puseste

Tudo o que sinto, sem poder dizer!


Leio-o, e folheio, assim, toda a minh'alma!

O livro que me deste é meu, e salma

As orações que choro rio e canto!...


Poeta igual a mim, ai que me dera

Dizer o que tu dizes! Quem souber

Velar a minha Dor desse manto!




(Florbela Espanca, In: Livro de Mágoas)