domingo, 11 de maio de 2014

Desafio Literário: Maio - Uma biografia

MALCON, Janet. A mulher calada, Ted Hughes e os limites da biografia. 1ªed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.


"O tempo cura as feridas, alisa, limpa, oblitera; a história mantém as feridas abertas, enfia o dedo nelas, escava e as faz sangrar." (MALCON, 2012, p.73)

Sylvia Plath sempre exerceu sobre mim um fascínio inominável. Ouvia, assitia e lia comentários a respeito de sua obra, sua vida e seus "problemas mentais" e sua morte trágica, o suicídio.

Enfim li uma biografia sobre ela. Janet Malcon - a autora da biografia - ao escrever sobre Sylvia tenta também apresentar ao leitor as delicadezas de escrever uma biografia principalmente quando pessoas que fizeram parte da vida íntima do biografado, principalmente parentes, ainda estão vivos.

A princípio Malcom tenta ficar imparcial no seu texto. Não condenar Ted Hughes e sua irmã Olwyn, como fizeram outros biografos, e tenta não mistificar ainda mais a figura de Sylvia Plath. Não posso dizer se ela teve êxito com os leitores de sua biografia em geral, mas comigo receio que não. Acredito que já estava tão arraigada em mim a ideia da "vilania" dos irmãos Hughes que ter simpatia por eles é difícil.  

Mais adiante na biografia fica claro - e ela mesma aponta - sua simpatia aos irmãos Hughes e a biografa Anne Stevenson que também escreveu uma biografia sobre Sylvia (Bitter Fame) e sofreu severas críticas quando publicada.

Fiquei insatisfeita com esta biografia. Pouco é dito sobre a vida de Sylvia ou sua obra, a autora está mais interessada em nos falar da dificuldade de se produzir uma biografia. Os fatos da vida de Sylvia são lançados esparsamente ao longo do texto, talvez pela "simpatia" aos irmãos Hughes, confessada pela a autora, ela tenha optado por dizer o menos possível sobre as partes mais "íntimas" da vida de Sylvia. Na verdade o que Malcom conseguiu foi me deixar com vontade de ler um biografia sobre Sylvia escrita por Jacqueline Rose (The haunting of Sylvia Plath) que parece ser, de fato, uma biografia sobre Sylvia Plath.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Projeto Leitura Cronológica (dos Contos): Histórias sem data

ASSIS, Machado de. Histórias sem data. Editora: Centaur, 2012.



Mais uma vez Machado de Assis consegue me deixar entusiasmada com a leitura de seus contos. Em Histórias sem data ele reúne treze contos para falar sobre as idiossincrasias de sua época. Mas o que é surpreendente  é que muitos dos temas expostos ainda são relevantes hoje.

Dos contos apresentados aquele que mais gostei foi: A igreja do diabo. Um conto incrível que fala sobre a condição do ser humano de desejar e perder o interesse tão logo o objeto desejado seja alcançado. E como Deus diz ao Diabo na parte final do conto: "Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana".

Acredito ainda que esse conto "abre-alas" é mesmo uma espécie de prefácio as outras contradições humanas que se apresentam nas histórias seguintes. Como por exemplo: a amante que ama o amante mas que supostamente o trai com outro homem. A mulher que teima que o marido troque seu chapéu usual por outro e quando este finalmente o faz ela pede que ele retorne ao uso do outro. Entre outras.

Outro conto que gostaria de destacar é: A segunda vida. Também achei-o particularmente interessante por conta da tensão na cena narrada. Um homem louco confessando a um padre a sua loucura. O padre assustado manda que busquem ajuda enquanto isso a narrativa do louco vai crescendo, crescendo até o momento final que deixa o leito preso num suspense. Muito bom. 

domingo, 4 de maio de 2014

Auto da Compadecida

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira (saraiva de bolso), 2012.


O auto da compadecida é uma peça cômica do escritor paraibano Ariano Suassuna. Inspirada em episódios da literatura de cordel apresenta as aventuras dos amigos picarescos João Grilo e Chicó na cidade de Tapiroá.  Retrata ainda elementos da cultura e do cotidiano do povo nordestino nos anos 50 e que ainda permanecem presentes  - mesmo que no imaginário - deles. Como por exemplo: a religiosidade, o cangaço e até o coronelismo. E é claro as peripécias daqueles que não têm nada mas precisam sobreviver.

Escrita em 1955 a peça teve sua primeira montagem em 1956. Também gerou algumas adaptações para TV e cinema sendo a última uma adaptação de Guel Arraes em 1999. 

Uma leitura rápida e garantia de algumas boas risadas.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Jango: a vida e a morte no exílio (Jurandir Machado da Silva)

SILVA, Juremir Machado da. Jango: a vida e a morte no exílio. 2. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013.



Nesse ano em que se lembrou os 50 anos do Golpe de 1964, este livro é uma leitura relevante. E conhecer a nossa história é fundamental. Aqui Jurandir nos apresenta os antecedentes que levaram Jango ao exílio e as circunstâncias que se fizeram presente para a implantação do Golpe civil militar e também  a vida e a morte de Jango no exílio como o título sugere. Tudo isso numa narrativa jornalística.

Dos fatos apresentados aquele que mais me indignou foi a participação financeira e intelectual dos EUA no Golpe. E tudo baseado na paranoia americana do comunismo. Por conta de especulações ajudaram o Brasil a mergulhar em mais de 20 anos de ditadura.

Sobre as especulações sobre o assassinato de Jango, apresentada primeiro pelo uruguaio "amigo" de Jango, Foch Diaz, segundo ele por interesses financeiro, e a versão apresentada anos depois por Neira Barreiro por motivações políticas. Apesar de declarar-se cúmplice no assassinato de Jango e se dizer ex-agente secreto do Uruguai, a versão de Neira apesar de verossímil não é totalmente convincente. Essas versões levantam e alimentam a suspeita do assassinato o que acredito ser realmente possível. Espero que as novas investigações (abertas recentemente) possam trazer a verdade à tona.