segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Poesia

Amor-Perfeito
(Laurindo Rabelo)


Secou-se a rosa...era rosa;
Flor tão fraca e melindrosa,
Muito não pode durar
Exposta a tantos calores,
Embora fossem de amores,
Cedo devia secar.

Porém, tu, amor-perfeito,
Tu, nascido, tu afeito
Aos incêndios que amor tem,
Tu que abrasas, tu que inflamas,
Tu que vegetas nas chamas,
Por que secastes também?!

Ah! bem sei. De acesas fráguas
As chamas são tuas águas,
O fogo é água de amor.
Como as rosas se murcharam
Porque as águas lhe falharam,
Sem fogo murchastes, flor.

É assim, que bem florente
Eras, quando o fogo ardente
De uns olhos que raios são,
Em breve, mas doce prazo,
Te orvalhou naquele vaso
Que já foi meu coração.

Secastes, porque esse pranto
Que chorei e choro há tanto,
De todo o fogo apagou.
Triste, sem fogo, sem frágua,
Secaste, como sem água,
A triste rosa secou.

Que olhos foram aqueles!
Quando eu mais fiava deles
Meu presente a meu porvir,
Faziam curéis ensaios
Para matar-me. Eram raios,
Tinham por fim destruir.

Destruíram-me; contudo
Perdôo o pesar agudo,
Perdôo a pungente dor
Que sofri nos meus tormentos,
Para felizes momentos
Que me deram nesta flor.

Ai! seca flor, de bom grado,
Se tanto pedisse o fado,
Quisera sacrificar
Liberdade e pensamento,
Sangue, vida, movimento.
Luz, olfato, sons e ar,

Só para ver-te florente
Como quando o fogo ardente
De uns olhos que raios são,
Em breve, mas doce prazo,
Te orvalhou naquele vaso
Que já foi meu coração.