terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Projeto Leitura Cronológica: Memorias Póstumas de Brás Cubas

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria (1839-1908). Memórias Póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012.






"...expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos!" (pg. 55)

É provável que todos conheçam (mesmo que superficialmente) a obra de Machado de Assis "Memórias Póstumas de Brás Cubas" visto que esse é um dos livros mais adotados pelos professores de literatura na tentativa iniciar seus jovens alunos no mundo literário. 

No livro, Brás Cubas ("o defunto autor") narra suas memórias. Inicialmente, nos levando ao momento de seu adoecimento e do delírio final. E a partir de então, nos conduzindo pelos fatos mais relevantes de sua vida. Partindo do princípio que está morto e portanto não mais preso as convenções sociais e a moral ele revela despudoradamente seus pensamentos e opiniões sem censura. Revela suas pervesidades infantis, seus primeiros amores, suas ambições frustadas, seus preconceitos e seu amor adultéro.

Chamando o leitor a participar, interropendo o fluxo da narrativa para fazer comentários aleatórios Machado de Assis vai desenvolvendo um novo tipo de narrativa afastando-se principalmente do estilo romântico que estava presente nos seus livros anteriores. E em alguns momentos do livro parece querer explicitar isso, por exemplo, quando narra a despedida de Vírgilia ele escreve: "...devia padecer um grande desepero, derramar algumas lágrimas, e não almoçar. Seria romanesco, mas não seria biográfico" (pg. 204)

Nesse sentido não consegui deixar de associar o triângulo amoroso de "Memórias Póstumas" com o quase-triângulo de "A Mão e a Luva". Em "A Mão e a Luva" Guiomar escolhe para marido Luís Alves, advogado ambicioso com pretenções políticas em detrimento do româtico Estevão e de seu primo Jorge. Em "Memórias Póstumas", Vírgilia opta por casar com Lobo Neves que é um promissor homem público ao invés de Brás Cubas, um bon vivant sem muitas ambições. Porém, alguns anos depois Virgilia reencontra Brás Cubas com quem mantém um relacionamento adúltero. O que será que Machado teria feiro com a chatíssima Guiomar em sua fase realista?

Ah! Só para constar, em Memórias Póstumas Machado nos apresenta Quincas Borba ("filosofo") que aparece seu romace seguinte - "Quincas Borba" - deixando sua herança para o professor Rubião. Aqui conhecemos a personagem melhor, no outro "assistimos" o avanço de sua loucura e a morte.

Existe uma adaptação cinematógrafica de Memórias Póstumas do ano de 2002 com Reginaldo Faria como Brás Cubas morto narrando sua história. Uma adaptação bem fiel a obra, vale a pena conferir!