domingo, 15 de março de 2009

O que é um nome?




JULIETA - Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.


ROMEU (à parte) - Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?


JULIETA - Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo,fica comigo inteira.


ROMEU - Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em diante não serei Romeu.


JULIETA - Quem és tu que, encoberto pela noite, entras em meu segredo?


ROMEU - Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser teu inimigo; se o tivesse diante de mim, escrito, o rasgaria.


JULIETA - Minhas orelhas ainda não beberam cem palavras sequer de tua boca, mas reconheço o tom. Não és Romeu, um dos Montecchios?


ROMEU - Não, bela menina; nem um nem outro, se isso te desgosta.




Pois é, Julieta...o que é um nome? Que significado carrega uma palavra, porque tenho de chamar rosa de rosa? Porque Romeu se chama Romeu?

Tudo vem da arbitrariedade do Outro, tudo é nomeado pelo outro...

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