sábado, 25 de outubro de 2014

Desafio do Halloween Literário: update 3

LINDQVIST, John Ajvide. Deixa ela entrar. São Paulo: Globo, 2012.



Deixa ela entrar é um livro de vampiros. Vampiros de "verdade", daqueles que bebem sangue humano, queimam ao sol, morrem com estacas no coração etc.

A história começa com a chegada de duas figuras estranhas a cidade de Blackeberg, um suburbio de Estocolmo. Aparentemente um pai e sua filha. E a partir da chegada dessas figuras começam a acontecer alguns assassinatos bizarros na cidade onde as vítimas são encontradas com o sangue drenado. Simultâneo a isso, temos Oskar um menino solitário de 12 anos que sofre bullying no colégio. Ele é perseguido pelos colegas de escola que o submetem a humilhações cruéis e diárias. Com isso Oskar começa a alimentar pensamentos de matar esses meninos em "brincadeiras" solitárias no parquinho de seu prédio. É assim que ele conhece Eli, a estranha menina que mudou recentemente para o prédio ao lado do dele e os dois desenvolvem uma amizade.

Conforme a leitura avança vamos descobrindo que o homem que cuida de Eli é na verdade um pedófilo e que eles tem uma relação bem bizarra. Porque este homem mata pessoas para conseguir sangue para Eli em troca de favores sexuais. As cenas do livro que envolvem esse personagem são desagradáveis porque temos uma repulsa natural a maneira como ele age. Imagine o grotesco da situação: uma criança que para conseguir alimento se assujeita a um pedófilo que por sua vez para ter garantido seus prazeres sexuais distorcidos mata outros seres humanos. O leitor não consegue ficar indiferente.

Ao mesmo tempo que criamos empatia pela personagem do vampiro porque o autor consegue apresentar para o leitor o complexo que é ser uma criatura que precisa de sangue humano para sobreviver e que para sobreviver precisa ser um assassino. Além do fato de que o vampiro, no caso, é uma criança esse sentimento divido fica ainda mais evidente. Ao mesmo tempo não podemos deixar de notar que Eli garante sua sobrevivência se associando com figuras com algum "desvio". Primeiro, ao pedófilo e depois ao menino que sofre bullying porque através da "fraqueza" dessas pessoas ela consegue garantir sua sobrevivência. No caso de Oskar por ele ser um menino que se sente sem lugar ajudar Eli é, de certa forma, encontrar o seu lugar no mundo. Um lugar onde ele se sente valorizado e reconhecido. O que se pararmos para pensar é cruel. 

Não quero me estender muito nos comentários sobre os eventos do livro para não estragar a surpresa para aqueles que ainda vão ler, mas as cenas de Hakan (o ajudante de Eli) transformado em Vampiro são realmente bizarras. A cena do necrotério é assustadora.

Enfim, é um livro bom e que além de dar nova vida a figura mitológica do vampiro ainda trás outras reflexões importantes. Vale a pena ser lido. 

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