domingo, 23 de março de 2014

O Guarani

ALENCAR José. O Guarani. In: Obras Completas de José de Alencar (edição Kindle)


"Fez-se no semblante da virgem um ninho de castos rubores e límpidos sorrisos: os lábios abriram como as asas purpúreas de um beijo soltando o vôo".

Aprendemos das nossas aulas de literatura na escola que o livro, O Guarani, segundo romance de José de Alencar, primeiro romance indianista brasileiro, tem como objetivo criar o mito do herói brasileiro. Enquanto na Europa o herói é o cavaleiro medieval no Brasil o herói é o índio.

Pois bem, Alencar então traça o perfil de um índio corajoso e cheio de honra que tem como objeto de sua devoção a moça branca, Cecília, por quem é capaz de inúmeros atos heroicos.

O livro passa pelo " romance de quadrilha": Isabel amava Álvaro que amava Cecília que amava Peri (embora só se dê conta disso nos momentos finais) e que também era amada pelo italiano Loredano, o vilão. Até a caça ao tesouro, traições e batalhas épicas. Certamente com o objetivo de agradar a uma variedade de leitores.

O romance é dividido em quarto partes. Na primeira delas Alencar apresenta ao seu leitor o cenário e as personagens. Na segunda trás à luz alguns eventos anteriores que explicam o momento que encontramos as personagens na primeira parte e também nos ajuda a entender os eventos que levarão ao desfecho narrado na terceira e quarta partes do livro.

O Guarani é em geral um bom livro. Porém tem vários momentos na trama que irritam o leitor. Um deles, a personagem de Cecília, que é muito egoísta (embora no final mude, um pouco, sua atitude). Achei estranho que esta mocinha do período romântico carregasse este traço defeituoso. Não quero dizer com isso que as mocinhas devam ser perfeitas, pelo contrário, mas me pareceu diferente uma mocinha romanesca egoísta visto que em geral as mocinhas romanescas são seres perfeitos e resignados. Alencar até tenta dizer que ela é um anjo e tal mas não passou despercebido, aos meus olhos, o egoísmo de Ceci. Suas atitudes para com Peri, sua prima Isabel e também com Álvaro são insensíveis. 

Além disso, traz aquelas reviravoltas típicas de folhetim que pretendem surpreender o leitor e capturá-lo a trama. Ok, reviravoltas podem ser interessantes mas alguns elementos me pareceram exagerados. Como por exemplo, Peri era alguma espécie de gato de sete vidas? Por que convenhamos... Quantas vezes alguém pode "quase morrer" e depois sair sem nenhum aranhão? E aquele momento de Isabel e Álvaro no "quarto de virgem"? O que foi aquilo? Espero que você me responda "um delírio provocado pelos veneno aromático" porque a outra resposta é INACREDITÁVEL.

Enfim, apesar de algumas ressalvas O Guarani consegue prender o leitor até o final. Final que, aliás, termina em aberto deixando o leitor "decidir" o que aconteceu afinal com Peri e sua Ceci.

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